domingo, 28 de agosto de 2011

Um exemplo a (não) ser seguido... .




Dom Redovino Rizzardo, cs


Bispo de Dourados - MS

Dinheiro que se ganha fácil, também se gasta fácil! Quem enriquece de uma hora para outra – pior ainda se for por meios ilícitos – cedo ou tarde compreenderá que o dinheiro, mais do que a felicidade, o que traz é o medo, a insegurança e a violência.



É o que acontece com dezenas de jogadores de futebol, alguns deles de renome internacional. Um exemplo concreto é Luís Antônio Corrêa da Costa, mais conhecido como Müller. Jogando no “São Paulo”, foi campeão brasileiro em 1986 e em 1991, bicampeão da “Libertadores” e do “Mundial Interclubes” em 1992 e 1993. Ainda pelo “São Paulo”, foi campeão paulista em 1985, 1987, 1991 e 1992. Pela seleção brasileira, disputou três “Copas do Mundo”: no México, em 1986, na Itália, em 1990 e nos Estados Unidos, em 1994.



Apesar da arte, da técnica e da inteligência que o tornaram um dos grandes ídolos do futebol brasileiro, em poucos anos Müller perdeu tudo o que acumulou e hoje vive um momento particularmente sofrido e dramático. Morando de favor em casa de um colega de seus tempos felizes, o ex-atacante admite que tudo o que ganhou, gastou com mulheres e em festas. Sua situação ficou tão ruim, que chegou a vender até mesmo a igreja da qual se tornara pastor, numa tentativa de conversão.



Em maio deste ano, em entrevista que concedeu a alguns órgãos da imprensa brasileira, Müller revelou seu drama e se apresentou como “um exemplo a não ser seguido”: «Errei muito na vida. Tive bons momentos financeiros, mas fiz muita bobagem. Gastei tudo com besteira: mulheres, carros, vaidades pessoais, amigos de ocasião. Por ser uma pessoa generosa, muita gente se aproveitou de mim».



Indagado se tinha algum bem material, respondeu: «Comprei vários imóveis ao longo da minha vida. Mas fui perdendo, perdendo, perdendo... Nem sei calcular quanto perdi. Joguei fora o que construí ao longo de 20 anos. Hoje não tenho nada: nem carro (tive mais de 20) nem plano de saúde».



Contudo, apesar de tantas perdas – ou, talvez, graças a elas, já que, em geral, se aprende mais dos erros do que dos acertos – sempre há uma esperança para quem conta com Deus e... com a própria boa vontade. É o que também Müller procura fazer: «Posso dizer que não sou exemplo para ninguém. Espero que os jovens que estão começando, não repitam os meus erros. O que agora eu quero é que Deus me dê força para recomeçar do zero. E ele está dando. Tenho caráter, e isso não tem preço. Deus me concede a alegria de possuir o básico de que preciso: casa, roupa e comida. Tenho o que se requer para viver. Não sinto saudade do futebol, nem da vida de rico que levei. Agora, tudo passou!».



Se a vida começa aos 40, então Müller tem razão: sempre é possível iniciar e aprender. Nascido em Campo Grande no dia 31 de janeiro de 1966, é ainda jovem e, querendo, pode mudar tanto a sua vida, que se tornará, diferentemente do que falou, um “exemplo a ser seguido”.



Para quem é iluminado pelo Espírito Santo, porém, não é necessário esperar tanto tempo, nem dar muitas cabeçadas, para aprender. Os nossos “pais na fé” descobriram o caminho a seguir desde o Antigo Testamento. Folheando superficialmente o livro dos “Provérbios”, encontrei passagens altamente significativas. Eis algumas delas.



Primeiramente, jamais se deve esquecer que, «quem confia nas riquezas», cedo ou tarde «murchará» (11,28). Outra coisa: cuidado com a decepção em que caem os que acumulam bens: «A riqueza multiplica os amigos, mas quem empobrece é abandonado por todos» (19,4). Eis, então, o conselho que brota da sabedoria: «Não te afanes em adquirir riquezas, nem gastes a tua inteligência com isso, pois basta um olhar e ela desaparece; baterá asas como águia e voará pelo céu» (23,4-5. Por isso, a oração a ser feita só pode ser esta: «Duas coisas, eu te peço, ó meu Deus! Afasta de mim a falsidade e a mentira! Não me dês riqueza nem pobreza! Concede-me apenas o meu pedaço de pão, para que, saciado, eu não te renegue, dizendo: “Quem é Deus?”. Ou, então, reduzido à miséria, eu comece a roubar e a profanar o teu nome!» (30, 7-9).



Para Jesus, a única “lavagem de dinheiro” correta é empregá-lo no serviço aos necessitados: «Fazei-vos amigos com o dinheiro sujo, para que, quando acabar, eles vos recebam nas moradas eternas» (Lc 16,9).



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