domingo, 24 de julho de 2011

Psiquiatria Forense ( MARCELO BRIZOLARI )

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Exame Psiquiátrico (roteiro)



PUC - Campinas - Serviço de Psiquiatria



ROTEIRO PARA O ESTUDO CLÍNICO PSIQUIÁTRICO - OBSERVAÇÃO CLÍNICA



I - Identificação: Idade, raça, sexo, situação conjugal, grau de instrução, profissão, religião, naturalidade, procedência. Informante.



II - Queixa Principal/Duração



III - História da Moléstia Atual



Início e desenvolvimento dos sintomas ou alterações comportamentais que culminaram com a procura de assistência psiquiátrica ou psicológica pelo paciente e/ou por seus familiares. Caracterização do quadro clínico.

Atitudes do paciente em relação a esses sintomas ou alterações.

Fatores pessoais, sociais ou ambientais que possam ser relacionados ao aparecimento e evolução dos sintomas (desencadeantes e agravantes). Circunstâncias sob as quais vivia o paciente na época do início de suas dificuldades e posteriormente. De que forma tais dificuldades afetaram as atividades socio-laborais e as relações interpessoais do paciente?

O paciente faz alguma idéia própria quanto à natureza e a causa dos sintomas?



IV - Antecedentes Pessoais

Infância - Condições de gestação e parto. Primeiras horas após o nascimento. Aleitamento: natural ou artificial, início, duração, término, atitude materna. Desenvolvimento Neuropsiquicomotor: sustentar a cabeça, sentar, engatinhar, andar, falar, controle dos esfíncteres.

Personalidade infantil: vivacidade, sociabilidade, estabilidade emocional, aprendizagem, etc. Traços de neurose infantil: chupar dedos, roer unhas, bulimia, anorexia, coprofagia,, roubo, enurese, encomprese, insônia, gagueira, pesadelos, terror noturno, medo do escuro, sonambulismo, timidez, pranto exagerado, obediência exagerada, agressividade. Lembranças traumáticas.

Saúde - Considerações gerais, grau de saúde, acidentes, operações, atitudes em relação à própria saúde. Nutrição e hábitos: dieta (café, chá, fumo, álcool, etc.), medicamentos, exercícios físicos, hábitos de sono, hábitos higiênicos. Enfermidades anteriores. Ciclo menstrual. Gestações. Abortos.

Vida sexual - Curiosidade infantil. Aprendizagem inicial. Primeiras observações de atos sexuais. Masturbação. Puberdade psíquica e física. Relações sexuais homo/hetero. Aberrações e perversões. Intensidade e satisfação dos desejos sexuais. Frequência e tipo. Relações sentimentais.

Instrução - Início, desenvolvimento e nível de formação. Dificuldades de aprendizado e relacionamentos. Interesses, interrupções e motivos.

Trabalho - Tipos de trabalho, início, dificuldades. Condições atuais, remuneração, adaptação e expectativas.

Traços de personalidade - Atividades habituais: intensidade, tipo (social, religiosa, política, etc.). Interesses e flutuações. Direção habitual dos conteúdos psíquicos: obsessiva, hipocondríaca, depressiva, expansiva, paranóide, mágica, etc.

Antecedentes conjugais - Número de matrimônios e convivências: datas, duração, término e motivos. Situação atual: conflitos, envolvimento afetivo e sexual. Relações extraconjugais.



V - Antecedentes Familiares

Pais (e/ou substitutos), irmãos, cônjuge, filhos: idade, ocupação, saúde física e mental, hábito, vícios, antecedentes psiquiátricos, suicídios ou mortes de causa desconhecida. Relacionamento com o paciente.



EXAME DO ESTADO MENTAL





1. Apresentação geral do paciente: aparência quanto à idade e à saúde, defeitos e peculiaridades físicas, posição corporal , mobilidade geral, expressão facial , higiene, asseio, modo de vestir-se, etc. Situação da entrevista e atitude do paciente em relação ao profissional.



2. Afeto: desconfiado, agressivo, irritado, ansioso, alegre, exaltado, apático, depressivo, eufórico, indiferente, assustado, perplexo, sereno, calmo, embotado, etc. Labilidade, ambivalência, associação ideo-afetiva e modulação. Equivalentes orgânicos: apetite, peso, sono e libido.



3. Pensamento: forma (logicidade, coerência, ecolalia, neologismo, etc.), conteúdo (delirante, suicida, depressiva, hipocondríaca, etc.), característica da voz e fluxo do pensamento.



4. Senso-percepção: solilóquios, risos imotivados, gesticulações, etc.

5. Atenção: espontânea e voluntária

6. Memória: imediata, fixação e remota. Quantitativa e qualitativa.

7. Orientação: alopsíquica e autopsíquica.

8. Psicomotricidade: agitação, catatonia, inquietação, maneirismo, ecopraxia, etc.

9. Nível de consciência: vigil, sonolento, coma, etc.

10. Capacidade intelectual e de abstração

11. Juízo crítico da realidade



Violência e transtorno mental grave.



A relação entre transtorno mental grave e violência é bastante complexa e, apesar dos contantes avanços da psiquiatria moderna, ainda continua gerando muita discussão e dúvidas. A dimensão do debate, envolvendo questões culturais, sociais, éticas e políticas, tornam esse campo da psiquiatria forense ainda mais complexo. (Binder, 1999; Mullen, 2000, Arboleda-Florez, 2005)

Até próximo dos anos 1980-1990 o consenso era que pessoas com esquizofrenia não eram provavelmente mais violentas comparadas com a população geral (Walsh et al, 2001). Novos estudos epidemiológicos surgiram e atualmente aceita-se que pessoas com esquizofrenia, embora por força de um pequeno subgrupo, têm maior probabilidade de serem violentas que a população geral. Mesmo assim a proporção do total de violência social atribuída a este grupo é bastante pequena, geralmente abaixo de 10% (Walsh et al, 2001).

Um ato grave de violência cometido por uma pessoa com transtorno mental grave é um evento relativamente raro (Monahan, 1992). Entretanto, quando ocorrem episódios de grande repercussão na mídia o tema volta a ser foco de atenção e debate (Gattaz, 1998; Josef e Silva 2003). Essa relação é fortemente reforçada por aspectos culturais e históricos, que desde o século XIX associam “loucura” ao crime. Violência e transtorno mental associam-se na mente do público e os profissionais de saúde mental costumam sentir-se compelidos a dizer que esses medos são infundados. Infelizmente, os profissionais não têm evidências claras para justificarem suas afirmações e formularem suas explicações, pois a maioria dos estudos ainda tem valor limitado (Stuart e Arboleda-Florez, 2001; Long, 2000).

A literatura sobre transtorno mental grave e violência está sujeita tanto a dificuldades metodológicas, associadas com avaliações diagnósticas não confiáveis, indiretas, retrospectivas, com a ocorrência de comorbidades (especialmente uso/abuso de substâncias psicoativas), com variações culturais importantes na percepção e construção do que é de fato um ato criminoso, bem como a uma falta de precisão na definição abrangente e precisa da própria violência (Marzuk, 1996; Arboleda-Florez, 1998).

Soma-se a isso a dificuldade em abordar o tema violência com receio de reforçar a estigmatização do doente mental, sendo isto contrário à exigência ética da profissão (de defesa permanente de nosso pacientes) e ao processo histórico da reforma psiquiátrica (Torrey, 1994)

Para indivíduos com transtornos psicóticos, considera-se que a condição psicopatológica por si só é um fator potencial na precipitação de comportamentos disruptivos e atos violentos de forma geral. Existe um reconhecimento crescente de sintomas que tornam a pessoa mais vulnerável a possíveis atos violentos (Gunn e Taylor,1993; Teixeira et al, 2005).



Prof. Eduardo H. Teixeira, 2007







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